terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Desafios atuais à Vida Religiosa (2)


Desafio 2: Potencializar a vocação profética

A vida religiosa é fruto e dom do Espírito de Deus que se derrama nas  coisas e as assume como habitação e, ao mesmo tempo, dos movimentos da história. De um certo ponto de vista, o cristanismo é um movimento histórico que nasce a partir de Jesus Cristo. E, como sabemos, a história é o âmbito das relações sociais, o espaço da sociedade, da política que faz e refaz as instituições e move a história. Em outras palavras: a história não é o terreno do privado, mas a res-pública.

A Vida Consagrada é histórica em pelo menos dois sentidos complementares: ela traz sempre, nos diversos rostos que assume, os traços concretos de um determinado momento histórico; ela é um ator no palco da história, um ator capaz de interagir com outros e de influir sobre os movimentos sociais e culturais de conjunto. Para ser fiel a si mesma, a Vida Religiosa não pode fugir da história (no duplo sentido acima referido) e refugiar-se numa mística intimista, evangelicamente desviante e socialmente irresponsável.

A partir da prática e da pregação de Jesus sabemos que ares-pública é coisa de Deus. Ele anuncia e inaugura o reinado de Deus, que começa transformando o mundo. O espaço político, a ágora dos gregos, é o campo no qual se joga a partida que interessa ao Deus de Jesus Cristo. Não há disputa ou exclusão entre adoração a Deus e ação política. Como rede de pessoas que professam publicamente o desejo de se dedicarem exclusivamente a Deus e seus interesse no mundo, a Vida Religiosa precisa tomar partido qualificado nas disputas que estão em jogo em cada conjuntura histórica.

Mas a Vida Religiosa entra nas disputas da história sem o interesse primordial de se auto-perpetuar, ou com o objetivo de representar os interesses da instituição eclesial ou da civilização ocidental, mas para cuidar que germinem e floresçam nela as sementes do Reino de Deus. E isso significa, entre outras coisas, entrar na história a partir da periferia, das dores, sonhos e direitos dos pobres, dos últimos. O Papa Francisco tem lembrado isso repetidamente a todos os cristãos! E aos religiosos: “A prioridade de Vida Religiosa é a profecia do Reino, e isso é inegociável. Os religiosos jamais podem renunciar à profecia...”

A fidelidade evangélica e cristológica da Vida Religiosa não se mede pela imponência dos seus edifícios, pela beleza das suas consituições, pelo número de alunos das suas universidades ou pela relevância social das suas obras sociais, mas pela intensidade da presença e das parcerias com os seres humanos que são jogados nos porões ou periferias da vida. E terá vida longa e digna na medida em que perceber, maravilhada e agradecida, que é ali que Deus fez morada e vem ao seu encontro como graça e exigência.

Itacir Brassiani msf

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