Desafio 2: Potencializar a vocação profética
A vida religiosa é fruto e dom do Espírito de Deus que
se derrama nas coisas e as assume como
habitação e, ao mesmo tempo, dos movimentos da história. De um certo ponto de
vista, o cristanismo é um movimento histórico que nasce a partir de Jesus
Cristo. E, como sabemos, a história é o âmbito das relações sociais, o espaço
da sociedade, da política que faz e refaz as instituições e move a história. Em
outras palavras: a história não é o terreno do privado, mas a res-pública.
A Vida Consagrada é histórica em pelo menos dois
sentidos complementares: ela traz sempre, nos diversos rostos que assume, os
traços concretos de um determinado momento histórico; ela é um ator no palco da
história, um ator capaz de interagir com outros e de influir sobre os
movimentos sociais e culturais de conjunto. Para ser fiel a si mesma, a Vida Religiosa
não pode fugir da história (no duplo sentido acima referido) e refugiar-se numa
mística intimista, evangelicamente desviante e socialmente irresponsável.
A partir da prática e da pregação de Jesus sabemos que
ares-pública é coisa de Deus. Ele
anuncia e inaugura o reinado de Deus, que começa transformando o mundo. O
espaço político, a ágora dos gregos,
é o campo no qual se joga a partida que interessa ao Deus de Jesus Cristo. Não
há disputa ou exclusão entre adoração a Deus e ação política. Como rede de
pessoas que professam publicamente o desejo de se dedicarem exclusivamente a
Deus e seus interesse no mundo, a Vida Religiosa precisa tomar partido qualificado
nas disputas que estão em jogo em cada conjuntura histórica.
Mas a Vida Religiosa entra nas disputas da história
sem o interesse primordial de se auto-perpetuar, ou com o objetivo de
representar os interesses da instituição eclesial ou da civilização ocidental,
mas para cuidar que germinem e floresçam nela as sementes do Reino de Deus. E isso
significa, entre outras coisas, entrar na história a partir da periferia, das
dores, sonhos e direitos dos pobres, dos últimos. O Papa Francisco tem lembrado
isso repetidamente a todos os cristãos! E aos religiosos: “A
prioridade de Vida Religiosa é a profecia do Reino, e isso é inegociável. Os
religiosos jamais podem renunciar à profecia...”
A fidelidade evangélica e
cristológica da Vida Religiosa não se mede pela imponência dos seus edifícios,
pela beleza das suas consituições, pelo número de alunos das suas universidades
ou pela relevância social das suas obras sociais, mas pela intensidade da
presença e das parcerias com os seres humanos que são jogados nos porões ou
periferias da vida. E terá vida longa e digna na medida em que perceber,
maravilhada e agradecida, que é ali que Deus fez morada e vem ao seu encontro
como graça e exigência.
Itacir Brassiani msf
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